Juiz Marcelo Malizia Cabral, coordenador do Cejusc, acredita que o projeto abre portas para resolução de problemas sem o uso da violência (Foto: Jô Folha - DP) |
Após os encontros para dialogar e prevenir conflitos, os participantes e a organização da iniciativa veem melhoras nas
relações entre os moradores.
O projeto Bons Vizinhos
prevê 30 círculos voltados ao diálogo restaurativo em cada
residencial construído pela habitação popular Minha Casa Minha
Vida que apresenta conflitos entre os moradores. Na tarde dessa
quarta-feira (16), o Residencial Eldorado completou o ciclo e recebeu
o 30º encontro. Os facilitadores, atores que aplicam as técnicas de
Justiça Restaurativa, apontam melhoras nas relações do local. O
último encontro do círculo de conversas foi aberto com os moradores
e os facilitadores narrando os acontecimentos das primeiras semanas
de 2019. Com o objeto que permite a palavra em mãos, cada um contou
suas experiências e ganhos pessoais com os encontros do grupo ao
longo dos últimos meses. Rejane Corrêa, de 44 anos, relembrou e
agradeceu aos participantes a ajuda dos vizinhos. Em outubro, o filho
dela faleceu depois de complicações em decorrência da infecção
do vírus HIV. Quando soube da doença, a mulher, que não consegue
trabalhar por ter osteoporose, reuniu todos os esforços que
conseguiu a fim de cuidar do adolescente. Junto da morte do filho,
veio a tristeza ao lar de Rejane. "Aqui eu encontrei uma segunda
família", explica, ao contar das reuniões do projeto Bons
Vizinhos. Além de auxiliar com diálogos para evitar problemas entre
os habitantes, as ações têm como objetivo humanizar as relações.
Assim, o grupo ajudou Rejane após o momento difícil, tanto
psicologicamente quanto pela compra de alimentos, já que ela acabou
perdendo benefícios sociais por conta de dívidas contraídas pelos
gastos com internação e medicamentos. Francisco Paiva, um dos
facilitadores do grupo, conta que as características dos moradores
do Eldorado são únicas se comparadas aos demais residenciais
atendidos. A interação e a espontaneidade das pessoas de lá foram
os aspectos mais marcantes. Segundo a prefeitura de Pelotas, órgão
parceiro do projeto, as reuniões no local iniciaram com apenas dez
participantes. Ao final do ciclo, 389 residentes estiveram reunidos
para dialogar e resolver os conflitos da localidade. "Educar
para a paz" O projeto Bons Vizinhos iniciou as atividades em
2016 e 1489 pessoas já participaram. Os residenciais são vários,
entre eles os condomínios Buenos Aires e Montevideo, que assim como
o Eldorado ficam na Zona Norte do município, e o Haragano,
localizado no bairro Jardim Europa. As rodas de diálogo incitam a
conversa sobre temas que afligem e geram conflitos entre os
moradores, com a finalidade de evitar e resolver eventuais problemas
entre os grupos e, consequentemente, no ambiente familiar. A
iniciativa parte do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e
Cidadania (Cejusc), unidade do Fórum de Pelotas e do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul. Os encontros são semanais em cada
condomínio, com dia e hora marcados para acontecer. Após o
encerramento das atividades no Eldorado, o condomínio do Obelisco é
o que segue na ativa. As técnicas aplicadas são as da Justiça
Restaurativa, que englobam ações voltadas para a evolução pessoal
dos membros dos grupos e da comunidade, destaca o juiz Marcelo
Malizia Cabral, coordenador do Cejusc. Apesar de debater vários
temas, a facilitadora Vilma Brito ressalta que os mais pedidos pelos
moradores são questões que envolvem conceitos de amizade, discussão
sobre preconceitos e solidariedade. Em 2018, a prefeitura, por meio
do Pacto Pelotas Pela Paz, construiu uma ponte de parcerias entre o
Cejusc, a Caixa Econômica Federal e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (Senac), que atua levando cursos e oficinas
aos moradores de cada localidade pela qual o projeto passa.
Dados retirados da reportagem de Júlia Müller, do Jornal Diário Popular, em 17/01/2019.
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