quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Bons Vizinhos no Residencial Eldorado

Juiz Marcelo Malizia Cabral, coordenador do Cejusc, acredita que o projeto abre portas para resolução de problemas sem o uso da violência (Foto: Jô Folha - DP)
Juiz Marcelo Malizia Cabral, coordenador do Cejusc, acredita que
o projeto abre  portas para resolução de problemas sem o uso da violência
(Foto: Jô Folha - DP)

Após os encontros para dialogar e prevenir conflitos, os participantes e a organização da iniciativa veem melhoras nas relações entre os moradores.
O projeto Bons Vizinhos prevê 30 círculos voltados ao diálogo restaurativo em cada residencial construído pela habitação popular Minha Casa Minha Vida que apresenta conflitos entre os moradores. Na tarde dessa quarta-feira (16), o Residencial Eldorado completou o ciclo e recebeu o 30º encontro. Os facilitadores, atores que aplicam as técnicas de Justiça Restaurativa, apontam melhoras nas relações do local. O último encontro do círculo de conversas foi aberto com os moradores e os facilitadores narrando os acontecimentos das primeiras semanas de 2019. Com o objeto que permite a palavra em mãos, cada um contou suas experiências e ganhos pessoais com os encontros do grupo ao longo dos últimos meses. Rejane Corrêa, de 44 anos, relembrou e agradeceu aos participantes a ajuda dos vizinhos. Em outubro, o filho dela faleceu depois de complicações em decorrência da infecção do vírus HIV. Quando soube da doença, a mulher, que não consegue trabalhar por ter osteoporose, reuniu todos os esforços que conseguiu a fim de cuidar do adolescente. Junto da morte do filho, veio a tristeza ao lar de Rejane. "Aqui eu encontrei uma segunda família", explica, ao contar das reuniões do projeto Bons Vizinhos. Além de auxiliar com diálogos para evitar problemas entre os habitantes, as ações têm como objetivo humanizar as relações. Assim, o grupo ajudou Rejane após o momento difícil, tanto psicologicamente quanto pela compra de alimentos, já que ela acabou perdendo benefícios sociais por conta de dívidas contraídas pelos gastos com internação e medicamentos. Francisco Paiva, um dos facilitadores do grupo, conta que as características dos moradores do Eldorado são únicas se comparadas aos demais residenciais atendidos. A interação e a espontaneidade das pessoas de lá foram os aspectos mais marcantes. Segundo a prefeitura de Pelotas, órgão parceiro do projeto, as reuniões no local iniciaram com apenas dez participantes. Ao final do ciclo, 389 residentes estiveram reunidos para dialogar e resolver os conflitos da localidade. "Educar para a paz" O projeto Bons Vizinhos iniciou as atividades em 2016 e 1489 pessoas já participaram. Os residenciais são vários, entre eles os condomínios Buenos Aires e Montevideo, que assim como o Eldorado ficam na Zona Norte do município, e o Haragano, localizado no bairro Jardim Europa. As rodas de diálogo incitam a conversa sobre temas que afligem e geram conflitos entre os moradores, com a finalidade de evitar e resolver eventuais problemas entre os grupos e, consequentemente, no ambiente familiar. A iniciativa parte do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc), unidade do Fórum de Pelotas e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Os encontros são semanais em cada condomínio, com dia e hora marcados para acontecer. Após o encerramento das atividades no Eldorado, o condomínio do Obelisco é o que segue na ativa. As técnicas aplicadas são as da Justiça Restaurativa, que englobam ações voltadas para a evolução pessoal dos membros dos grupos e da comunidade, destaca o juiz Marcelo Malizia Cabral, coordenador do Cejusc. Apesar de debater vários temas, a facilitadora Vilma Brito ressalta que os mais pedidos pelos moradores são questões que envolvem conceitos de amizade, discussão sobre preconceitos e solidariedade. Em 2018, a prefeitura, por meio do Pacto Pelotas Pela Paz, construiu uma ponte de parcerias entre o Cejusc, a Caixa Econômica Federal e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que atua levando cursos e oficinas aos moradores de cada localidade pela qual o projeto passa.

Dados retirados da reportagem de Júlia Müller, do Jornal Diário Popular, em 17/01/2019.

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