As relações
humanas são complexas e sempre revelam-se uma rica fonte de
conflitos, especialmente em uma sociedade onde os interesses
individuais sobrepõem-se aos coletivos.
Somos educados para viver em
um mundo em que cada um pensa, age e busca seu benefício
próprio; devemos ser os melhores naquilo que fazemos e
ultrapassar, a qualquer preço, todos os obstáculos para
a obtenção de nossas conquistas pessoais.
Vivemos em um mundo em que as
relações são superficiais, em que valemos mais
em razão da aparência e daquilo que temos do que em
função de nossos valores e princípios éticos
e morais.
Nesse mundo, onde o indivíduo
deve buscar a melhor posição possível mesmo que
em detrimento de seu semelhante, onde os espíritos de
comunidade e fraternidade não preponderam, onde o respeito ao
outro não constitui valor fundamental, os conflitos afloram
com pujança.
A escola reflete todas essas
mazelas de nossa sociedade, fazendo com que se tornem comuns cenas de
desconsideração com o próximo, de desrespeito
aos direitos do outro, de humilhações àqueles
com quem não nos identificamos, de inobservância a
regras de convívio social, de todas as formas de violência.
Os frutos dessa desordem
social são notícias diárias de depredação
de escolas, de agressões físicas e verbais de
estudantes para com professores e vice-versa, de perseguições
e agressões entre colegas de sala, que geram mais violência
envolvendo grupos e familiares.
Exatamente no objetivo de
transpor essa realidade, o Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul e o Município de Pelotas estão firmando convênio
para a implantação de Núcleos de Práticas
Restaurativas nas Escolas do município.
Neste novo modelo de gestão
de conflitos, Justiça e Escola, de mãos dadas entre si
e também com estudantes, professores, servidores e comunidade,
desenvolverão ações para prevenir e tratar a
violência presente no ambiente escolar e em seu entorno,
resgatando, por meio do diálogo, da empatia e da
autorresponsabilização, princípios éticos
e morais necessários ao convívio social harmônico,
com a utilização de ferramentas da Justiça
Restaurativa.
Que esse círculo
integrado por Justiça, Escola e comunidade possa restaurar
relações, reconstruir vidas e edificar um ambiente
escolar e uma sociedade com menos violência e mais harmonia e
paz !
Marcelo Malizia Cabral, Juiz
de Direito Coordenador do Centro Judiciário de Solução
de Conflitos e Cidadania da Comarca de Pelotas, RS –
maliziacabral@gmail.com
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