quarta-feira, 11 de setembro de 2013

CENTRAL DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO DA COMARCA DE PELOTAS - DEPOIMENTO DA CONCILIADORA E MEDIADORA EM FORMAÇÃO FABIANE PETER.


Breve relato mediação e conciliação

Eu me chamo Fabiane Peter, sou formada pela Universidade Católica de Pelotas, no curso de Direito, no ano de 1997, advogada (2000) e Especialista em Direito Ambiental pela UFPel (2004).

Exerci a advocacia por alguns anos, mas percebi que isso não era o que realmente queria, pois acredito que o Direito não se restringe apenas em ganhar ou perder, pois é uma área importante para a vida em sociedade. Em outros termos, o Direito vai muito além disso. A lei existe, e ela deve ser cumprida, mas para isso existem outras alternativas de resolver os conflitos que surgem. E foi por meio dessa forma de pensamento que no ano de 2011 surgiu a oportunidade de participar da seleção para “conciliadores voluntários” do Tribunal de Justiça do RS, na qual fui selecionada e estou atuando.

Esse é um trabalho voluntário, mas de suma importância para todos os envolvidos, pois estamos tentando modificar o atual funcionamento da Justiça, o qual se encontra em crise e totalmente defasado. A atividade do “conciliador” é muito interessante e importante porque ele atua como um intermediador, facilitando o diálogo entre as partes envolvidas. Nas ações em que envolveram o Direito de Família, por exemplo, conseguimos obter 100% de acordo. Desse modo, podemos concluir que o que realmente faltava era a oportunidade de um diálogo entre as partes em litígio e um local imparcial para os envolvidos exporem suas opiniões, suas histórias, etc.

A conciliação e a mediação (embora utilizem técnicas distintas) são meios de resolução de conflitos que podem auxiliar na elaboração de uma sociedade mais consciente de seus direitos, e na qual os cidadãos consigam vivenciar a justiça e a democracia, visando a oportunizar uma comunicação racional autêntica, na qual as partes envolvidas possam ser sujeitos desta relação, compartilhando dúvidas, anseios, sentimentos e problemas inerentes ao conflito; mas também as possíveis soluções e as mudanças de atitudes para a “pacificação” do mesmo.

Nestas formas de solucionar conflitos não há vencidos ou vencedores, mas uma solução compartilhada, que seja satisfatória às duas partes. O objetivo da conciliação e da mediação é que as partes cheguem a um acordo, após, é homologado pelo Juiz togado, que colocará um fim ao processo judicial. Às vezes, o acordo não ocorre no ato, mas possibilita tratativas de um futuro acordo, ou seja, abre caminho para restabelecer a paz que por ora encontrava-se estremecida.

Além das audiências, a Central de Conciliação e Mediação de Pelotas lançou a campanha Educação para a Paz com o lema “Conversando a gente se entende”. A intenção é promover a “cultura da paz” e conscientizar a comunidade para a importância do diálogo como meio de promover o entendimento e a pacificação social. A campanha é desenvolvida mediante a realização de palestras, diálogos em escolas, faculdades, empresas, comunidades e grupos sociais em geral. Os encontros são realizados pelos conciliadores, do qual eu faço parte, e coordenados pelo Dr. Marcelo Malizia Cabral, juiz coordenador da Central.

Atuo aproximadamente há dois anos como conciliadora e há seis meses como mediadora e durante o decorrer deste tempo tive a oportunidade de auxiliar vários processos a chegarem a um acordo favorável para as pessoas envolvidas. Tenho certeza que os acordos que não foram efetivamente realizados no ato da audiência, realizaram-se no decorrer do processo ou pelo menos algumas mudanças ocorreram.

Sei que existe um longo caminho pela frente, mas o importante é começar, e isso a Central de Conciliação e Mediação de Pelotas já está contribuindo para que a mudança ocorra e seja efetiva e eficaz.

Finalizo citando o pensamento de Hannah Arendt, importante filósofa, que tanto lutou pelo direito a ter direitos:

“Sem o discurso, a ação deixaria de ser ação, pois não haveria ator; e o ator o agente, o ato só é possível se for, ao mesmo tempo o autor das palavras” (Arendt, 2002).
Para Arendt o que confere sentido à experiência do homem como ser político é a palavra em ação como a capacidade de agir em conjunto com os outros. O diálogo coloca-se nessa experiência como possibilidade de conferir reciprocidade ao discurso dos atores políticos. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que o sujeito revela o seu discurso, este é capaz de acolher o discurso dos outros, e vice-versa. O diálogo é sem dúvida um encontro com o outro, uma ação a ser realizada no espaço público. É o outro que garante a realidade do mundo e de nós mesmos por meio do diálogo, provocado pela própria presença.